Tuesday, March 22, 2011

Academia

Eu nunca fui alguém com atributos desportivos e nunca fui incentivado a ser um atleta. Quando era apenas uma criança, descobri que gostava de futebol e sempre que podia estava lá jogando futebol com a molecada, seja do prédio onde morava, seja da escola. E sempre falava para minha mãe que queria ser jogador de futebol profissional, coisa que minha mãe sempre ignorou solenemente.

Jogava no gol, era baixinho e por isso ninguém levava muita fé, mas não tinha medo de me jogar para agarrar uma bola ou dividir na entrada da área com algum guri muito maior que eu, o que me levou a constantes fraturas, luxações, edemas, hematomas e outros traumas. E com isso consegui certo respeito quando estava lá na longínqua quarta série do primeiro grau.

Depois, muito tempo depois, quis fazer alguma luta, afinal, pelo meu tamanho, peso e porte, era sempre o saco (magro) de pancada dos “amiguinhos” da escola. Sim, o bullying sempre fez parte da minha vida. Quer dizer, da minha vida de adolescente. Era sempre o mais novo da sala, o mais baixo, o mais leve, o mais tímido, o mais fraco, o mais burro e o mais chorão. Mas novamente, minha mãe nunca me incentivou a esse tipo de esporte. E, finalmente aos 13 ou 14 anos, depois de muita insistência, comecei a fazer karatê numa academia chamada Kobukan, que era de um senhor magro, velho, enrugado, japonês (óbvio), que lutava muito chamado mestre Tanaka. Que, por coincidência era amigo do meu pai. Não sei se ele tinha algum problema com meu pai, pois ele sempre me colocava pra lutar com alguém que facilmente tinha o dobro e até o triplo do meu peso. Ou nos exercícios de abdominais ele ficava pisando e pulando sobre a minha magra barriga. Ainda bem que ele devia ter no máximo uns 60 quilos (ou menos, sei lá) e conseguia sustentar seu peso sobre o meu umbigo. Claro que mesmo sendo um pobre faixa branca, mirrado e esquelético, os que vinham lutar comigo deviam achar “ah, o cara é japonês... Sei lá... Vai que... Dane-se, vou quebrar ele antes que ele me quebre”. Como se isso fosse possível pra alguém que devia pesar uns 50 quilos no máximo. E sempre chegava em casa todo roxo. Até que cansei de apanhar e resolvi largar essa vida.

Eu sempre tive péssima impressão de academias de ginástica e musculação. Sempre achei que era um lugar onde todos eram marombeiros, todos ultra fortes, musculosos e que iriam rir de mim quando entrasse numa. Por isso, nunca me interessei por essa parte. Me lembro que no final da faculdade, quis entrar numa academia que era em frente, era só atravessar a rua. Mas quando fui conversar com um cara que deveria ser algum professor mal pago de lá, fui praticamente desencorajado a fazer musculação e qualquer outra coisa por lá. O sujeito me perguntou se eu fazia algum esporte e prontamente disse que corria (muito esporadicamente, algo do tipo uma vez por semana, se não chovesse). Ele, calmamente, me disse que isso não era exercício físico algum e que a musculação deveria servir apenas para complementar outro esporte. E não fez a minha inscrição. Juro.

Fastforwarding alguns anos, depois que a Eduarda nasceu e a mãe dela resolveu que ela deveria fazer natação, nos matriculamos todos na academia Fórmula da Água, em Copacabana, perto da clínica. A Duda pra natação e eu e a Raphaela para aeróbico e musculação. Eu e a Duda continuamos até hoje e a Raphaela, no início, ia dia sim, duas semanas não. E desistiu.

Eu sempre achei o ambiente da academia muito peculiar. Tinha pessoas que eu via e encontrava na academia todo dia, seja na musculação, ou seja, na esteira, mas que nunca falavam comigo e, mesmo encontrando essas pessoas na rua, em outros lugares, pareciam que elas nunca tinham me visto. Ou, vai ver, elas realmente nunca me viram ou prestaram qualquer atenção em mim na academia. Ou realmente me ignoravam mesmo. Com o passar dos anos (sim, dos anos mesmo) algumas pessoas começaram a falar comigo. Talvez por pena daquele japonês franzino que sempre tava com alguma camisa do Palmeiras. E hoje em dia ainda tem muita gente que ignora, mas vi que não é uma coisa pessoal. É alguma coisa de academia que ainda não sei direito o que é. Pensando bem, isso também acontecia no Ibeu. E também num curso de computação que fiz há décadas (estudei Basic e não aprendi nada, num TK 83). E em alguns cursos de veterinária. Acho que o problema sou eu mesmo.

1 comment:

  1. Bem conclusivo esse seu post mesmo. Acho que você decifrou um enigma da humanidade...rs. Eu também não sou chegado em academia, mas com meu aumento de peso, estou vendo que será um "mal necessário".

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