Saturday, September 11, 2010

11 de setembro

Não sei como funciona a mente humana. Sou humano, mas não sei nem como funciona a minha mente, quanto mais a dos outros. Escrevo isso porque reparei que o meu cérebro funciona de forma esquisita. Ele resolve ter ápices de criatividade nas horas mais impróprias e nas horas em que realmente não estou na frente de um editor de textos ou mesmo um papel e uma caneta pra fazer minhas anotações. Claro que a grande maioria das vezes esses pensamentos servem apenas para mim. E acho importante, pelo menos pra mim, expor essas idéias que aparecem do nada. Este post, por exemplo, começou a se formar na hora que estava tomando banho.

Entrando realmente no assunto do título, não vou ficar divagando sobre coisas óbvias como "o que você estava fazendo no momento do ataque dos talibãs contra as Torres Gêmeas?" ou "Bin Laden é o vilão sozinho ou o Bush tem grande parcela desse ataque?".

Achei que devia escrever sobre isso por causa de um texto postado pela novelista Glória Perez em seu blog sobre a idéia irresponsável de um pastor norte americano anti islã, como ele mesmo se denomina, de queimar exemplares do Alcorão (ou Corão). Li também uma matéria sobre o 11 de setembro no jornal O Globo, mostrando as reações mundo a fora sobre tal declaração e idéia de jerico desse pastor. Como disse a Glória Perez, um povo regido sobretudo por religião, eles não fazem distinção de vida civil e religiosa. Ou seja, o povo islâmico não irá simplesmente fazer uma tocaia e acertar um tiro na testa deste pastor. Irão mandar algum homem-bomba carregado com 30 quilos de explosivos que serão detonados arremessando aos ares tudo que estiver dentro do raio de destruição, não se importando se irão ser atingidos inocentes, pessoas que não concordam com as idéias do tal pastor, familiares, tudo!

Na verdade, todos que são considerados infiéis, ou seja, que não seguem o Alcorão e não têm Alá (ou Akbar) como forma de vida, não merecem seu respeito. Eu li em algum lugar que os muçulmanos, quando são doutrinados para matar infiéis, têm que fazer da forma mais cruel possível, fazendo sua vítima sofrer por mais tempo, inclusive usando facas cegas, para que o corte seja o mais doloroso e o sofrimento mais longo. E quanto mais longo e quanto maior for o sofrimento, mais "crédito" este algoz terá com Alá.

Não vou entrar na discussão de quem está certo ou quem está errado. Até porque, ao longo dos meus quarenta anos de vida, aprendi que não existe uma verdade ou mentira absoluta. Nem que existe um certo ou errado. Existem pontos de vista, formas de pensar diferentes, que o respeitar a idéia ou ideal do outro é que seria o ideal.

Ou seja, para um muçulmano matar em nome de Alá é correto. São atribuições ensinadas e doutrinadas, quase que adestradas desde crianças de que eliminar infiéis irá fazer com que, ao final de sua vida, seja como for a forma, irá alcançar a graça de encontrar Alá, o Todo Poderoso, de braços abertos para se juntar a forma mais perfeita de pós vida. Da mesma forma, a Igreja Católica prega que existe um Deus onipotente, onisciente e onipresente. Que devemos acreditar em anjos e santos. Enquanto que os evangélicos não acreditam nem aceitam santos. Que judeus ortodoxos só devem comer comidas kosher.

O que eu quero dizer é que nós, brasileiros, achamos absurdo que chineses comam cachorros. Que existam na cultura deles cães criados para abate. Que eles comam gafanhotos, formigas, escorpiões e outros seres, para nós pouco digeríveis. Mas temos a cultura de comer carne bovina, animal considerado sagrado pelos indianos. Na cultura indiana, é preferível descarrilar um trem com 500 passageiros causando a morte de grande parte e ainda ferindo outros tantos, do que atropelar uma singela vaca deitada alheia a situação nos trilhos do trem. Como os evangélicos acharem normal um pastor chutar a imagem de uma santa, dizendo aos brados que é uma figura oca, que não significa nada. Para os judeus, o abate de um bovino tem que ser feito por um rabino, sem dessensibilização do animal, com jugulação ainda com o bovino consciente, para que esta carne seja considerada kosher. Para um militante de bem estar animal isso é considerado extremamente cruel e desnecessário. Criminoso, diria muitos. Não se coloca os pés sobre sacos de arroz (principalmente) ou outras comidas na frente de um japonês. Nem se pisa em livros. Duas coisas sagradas para os orientais.

O problema é o significado. O que cada coisa significa para cada um. Para os católicos a imagem de uma santa ou de Jesus ou de Maria, Mãe de Deus é sacra. Deveria ser intocável. Como o Alcorão é para os muçulmanos. Para eles, como relatou Glória Perez, é uma espécie de "pocket" Alá. Não se profana nem mesmo em pensamento. Vale o velho ditado "o seu direito acaba quando começa o meu". A discussão é inútil. Cada um defende seu ponto de vista e cada um vai ter seus motivos para justificá-los. O que não deve acontecer é ofender um ponto de vista do outro. Não dá para desrespeitar o ideal do outro. Não adianta dizer que é devoto de Deus e invadir um estabelecimento de umbanda destruindo imagens relacionada à essa religião.

O fato de ser cristão, evangélico, judeu, muçulmano, ateu, budista, umbandista, espiritualista ou qualquer outra crença não importa. Importa é respeitar a crença do outro. Se concorda ou não, não cabe a ninguém julgar. Por mais absurda que possa parecer.

Voltando ao 11 de setembro de 2001, quando dois aviões foram arremessados de forma precisa sobre um dos ícones do modelo de vida norte americano, tão criticado pelos muçulmanos, mostra uma visão de como uma idéia idiota pode alcançar uma grande tragédia que irá afetar pessoas que não tem nada a ver com isso. A resposta não irá ser pontual. Não se limitará a eliminar apenas o pastor Terry Jones. Poderá ceifar outras dezenas, centenas e até milhares de outras vítimas que não compactuam com a idéia do pastor.

Aceitar e acima de tudo respeitar o ponto de vista dos outros é que nos deveria diferenciar de outros animais. Tal qual minha mente eu mesmo muitas vezes não entendo como funciona, imagina tentar pensar como outros? Outros, muitas vezes, que nem compartilham da mesma língua, credo, opção sexual, cor... A aceitação e compreensão deveria ser fundamental.

Para quem gosta de aviões como eu e quer ler sobre o 11 de setembro, fica a sugestão do livro "Plano de ataque" do escritor Ivan Sant´anna.

No demais, Amém, Allahu Akbar*, Shalom para todos!

*Alá é o maior

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