Saturday, January 22, 2011

Babás e babás

Eu nunca tive uma babá para cuidar de mim, que eu me lembre. Desde que era pequeno, tive gente da minha família para cuidar, exceto um curto tempo que tinha uma senhora muito, mas muito velhinha mesmo, daquelas encurvadinhas e toda enrugada, com a idade de um Wookie* velho. Parecia alguém que tinha ficado tempo demais dentro de uma banheira de água morna. Não sei exatamente quanto tempo de vida eu tinha, mas já andava e falava. E uma das memórias marcantes foi um episódio que não sei o que aconteceu, mas ela escorregou, caiu e bateu a cabeça na quina de um armário e desmaiou. Acho que por minha causa. Mesmo com pouca idade, sabia que algo errado tinha acontecido, pois via a pobre senhora japonesa enrugada caída no chão com os olhos fechados. E fui chamar a empregada da casa, que se chamava Janete (obviamente, sempre a chamava de “lanchanete”, como o estabelecimento comercial que serve comidas rápidas, mas pronunciado de forma errada). E descobri que realmente ela não servia para nada, pois ao mostrar a senhora caída no chão, ela se limitou a olhá-la e dizer: “- ih, ela desmaiou!” E continuou fazendo o que tinha que fazer, exceto socorrê-la. Eu peguei o aparelho de telefone e pedi que ela ligasse para minha mãe. Com certa má vontade e descrença, ligou e disse algo semelhante ao que tinha dito para mim: “- olha, dona Helena, a senhora caiu, bateu a cabeça e desmaiou.” Assim, nessa calma. Minha mãe voltou voando como um projétil de arma de fogo, mas acho que na hora que ela chegou, a senhora já estava começando a recuperar a sua consciência. Lembro que a idiotinha da empregada ainda disse: “- viu, dona Helena, não disse que ela ‘só’ tinha desmaiado?”

Avançando algumas décadas, quando a minha filha Maria Eduarda nasceu, por cerca de uns cinco a seis meses, eu e a Raphaela alternávamos as tarefas durante o dia e a noite para cuidar da pequena Duduca, que não nos dava tanto trabalho assim. Mas depois de um tempo, vimos que realmente precisávamos de uma babá para ela, até porque estava crescendo e tomando mais o nosso tempo. Não que fosse coisa desagradável, mas às vezes, eu tinha que sair para fazer alguma cirurgia ou procedimento e não tínhamos com quem deixá-la.

No longínquo bairro de Santa Cruz, onde meu sogro tem uma fazenda, tinha esta pequena criatura (pequena mesmo, ela tem no máximo 1,45m de altura) que já tem uma filha um pouco mais velha que a Duduca e que se dispôs a trabalhar de babá. A R. Sempre trabalhou bem, a Duduca adora ela, atenciosa com as crianças, cuidadosa com a maioria das coisas, um pouco marrenta (todo baixinho é invocado, e ela não fugiu a regra), mas gente boa. Ela ficou trabalhando como babá até 2009, quando ela já estava meio desanimada com o trabalho e tinha arranjado alguém para sustentá-la. E com a Raphaela engravidando de gêmeos, ela picou a mula e caiu fora. Disse que não teria a menor condição de ficar numa casa com gêmeos e mais uma menina hiperativa. Ficamos um pouco receosos de como a Eduarda reagiria, mas ela sempre foi muito sociável, não dando muito trabalho para adaptação com outras babás.

Neste momento começou a saga interminável de procura, seleção e adaptação de babás. Aliás, assim como empregadas domésticas, secretárias e outros tipos de empregados, é sempre uma “caixinha de surpresas”, usando um jargão esportivo.
Então, não sei onde a Raphaela achou a M., mas foi a primeira babá pós-R. Era uma mulher nova, negra, que falava como se tivesse com oligofrenia, quando falava, pois raramente se manifestava verbalmente na nossa presença. Nessa época, um pouco antes dos gêmeos nascerem, morávamos na casa da minha sogra, num apartamento pequeno. E ela tinha uma capacidade de se esconder num apartamento muito pequeno. Um dia, alguma empregada a viu dentro do banheiro de empregada toda encolhida e perguntou se estava passando mal ou algo assim. Ela diz que não, que estava apenas se escondendo da minha sogra, pois ela a achava muito chata e que não era paga para “receber ordens” dela! E os gêmeos nasceram e ela continuou por pouco tempo até ser dispensada. A Duduca até gostava dela, mas ainda assim, volta e meia perguntava pela Rose baixinha.

Depois dela, vieram outras inúmeras babás, começando com a AP, a nora da empregada/entidade que se materializa esporadicamente na minha casa. Junto com ela, veio a J. Eu já tinha escrito no Twitter sobre elas. A AP é uma mulher negra, magrela que tem um nariz de tomada, cabelos alisados e uma voz rouca. Sempre tratou bem as crianças. Pelo menos era o que a gente pensava. Não que ela as maltratasse, batesse ou fizesse coisa desse tipo, mas contarei mais abaixo. A J, outra mulher negra, de cabelos esquisitos, igualmente alisados, mas parecia um aplique ou algo assim. Tinha uns peitos monstruosos que devia lhe causar algum dano na coluna vertebral. Também nunca vi qualquer sinal que indicasse que ela agredisse as crianças, mas reparava que ela não tinha uma dose de paciência para, por exemplo, tirar um dos bebês do berço. Ela puxava pelo bracinho do bebê. Como disse num post anterior, meus gêmeos têm intolerância a lactose e por isso precisam tomar leites específicos, que custam caro e, por isso, qualquer coisa a mais que eles comessem, refletia como vômitos, cólicas ou brotoejas. E nariz escorrendo. Uma das alergologistas consultada tinha prescrito uma medicação chamada Singulair (“I´m a singulair, I´m a singulair, oh, oh, oh, ohhhh, ohhhh!) igualmente cara para a suposta alergia. A tal da J., além de ser alguém impressionantemente inútil no dia a dia, descobrimos que era mentirosa. Por várias vezes caiu em contradições sobre os mais diversos assuntos. Incluindo a correta administração do Singulair. Ou seja, quando ela lembrava, ela dava a medicação que tinha que ser dada junto com alimentos (frutas). Já a AP, que tinha um péssimo hábito de debochar dos outros, inclusive dos patrões, foi que nos levou a uma certa revolta. A desgraçada, em uma discussão com a Raphaela, por telefone, simplesmente perdeu o juízo e começou a gritar deliberadamente com a patroa! E ela na minha frente. Não tomei qualquer atitude na hora, mas naquela hora vi que já não cabia mais aqui em casa. E o pior, ela não tinha razão na discussão. E mesmo que tivesse, tinha acabado de perdê-la gritando.

Durou uns poucos meses e realmente resolvemos que estava mais do que na hora de mandar as duas embora. A J. que além de mentirosa e preguiçosa, ficava mais tempo na portaria cantando os porteiros do que fazendo suas obrigações. E nem sabemos se ela alguma hora deixou as crianças dormindo sozinhas em casa, com ela na portaria. A AP foi pior. Depois de ela ser mandada embora, ela ainda freqüentou a casa da minha sogra e da minha cunhada, ajudando em faxina. E foi quando ela disse para a minha sogra que os meus filhos NÃO tinham qualquer alergia, que ela tinha toda a certeza disso. E minha sogra quis saber o porquê. Eis que ela diz que ela dava Danoninho para eles todos os dias ou dias alternados e que eles nunca morreram ou ficaram doentes por isso. Seria como dar camarão para mim todos os dias e dizer que só porque eu não morro, apenas fico me coçando e formando lesões pruriginosas não seria alérgico a camarão. Na minha concepção, isso se chama tentativa de homicídio. Ou seja, dar uma substância sabidamente intolerante a uma pessoa significa que está assumindo o risco de causar algo muito grave que poderia levar até a morte. E quando a Raphaela foi confrontá-la sobre isso, ainda fez cara de deboche e desdém. Felizmente, a única coisa que isso tudo causou foram algumas noites mal dormidas, várias roupas, lençóis e travesseiros trocados e lavados e muito nariz escorrendo catarro verde. Ou seja, o Singulair nunca iria servir para absolutamente NADA, com os meninos tendo contato com produtos lácteos. Coincidentemente, após elas serem mandadas embora, os meninos nunca mais apresentaram melecas verdes no nariz. Tampouco vômitos noturnos (exceto, claro, quando eles “roubam” algum alimento com leite da gente). Infelizmente, não temos provas de que ela realmente fazia isso e ela nunca confessaria isso numa delegacia, onde gostaria de ter feito ocorrência. Eu já tinha sugerido colocar câmeras de segurança, mas não levamos a idéia à diante. Uma pena, pois adoraria ver essa criatura ignóbil enjaulada. Ou pelo menos condenada com pena revertida em algum projeto social.

E veio uma senhora muito educada chamada Aparecida, a Cida. Mas infelizmente, ela já tinha se comprometido com uma antiga patroa que também estava para ter gêmeos e ela acabou ficando conosco apenas alguns fins de semana, como folguista. Certamente, ela foi a melhor até agora, além da R. Mas tudo que é bom, dura pouco. Mas a R. resolveu voltar para assumir os três. Agora que os meninos já andam e destroem tudo pela casa, ela achou que dá conta. O problema da R. é na hora da natação deles. Como são dois, precisam de dois adultos para fazer a aula com eles. E a piscina da Fórmula da Água, academia onde eu freqüento, tem a profundidade de 1,50m, ou seja, ela faz um esforço sobrehumano para ficar na ponta dos pés e conseguir ficar com o nariz de fora da água e ainda segurando algum dos guris, fazendo-o bater os pés ou fazê-lo subir em plataformas para pular ou apenas boiar. Hilário, mas me faz ter que entrar na piscina. O que também não deixa de ser divertido fazer aulas com eles!

A Cida até nos indicou algumas pessoas, mas nenhuma funcionou. Veio uma que ficou cerca de 2 horas, viu como seria e disse que não ia conseguir lidar com a situação e foi embora, sem nem pegar o dinheiro da passagem que sempre pagamos. Outras que marcaram diversas vezes e nunca apareceram e não deram satisfação.

Outra, com cara de novinha, ficou um fim de semana e também não agüentou. Realmente, neste fim de semana em questão, os meninos estavam muito agitados e inapetentes e, com isso a Raphaela surtou, assustando a guria. Que também não demonstrava muita iniciativa, o que para nós é fundamental.

Teve um outra, grandona, muito feia, que parecia a noiva do Frankenstein. Na verdade, ela nem achei muito ruim, mas a Raphaela não gostou e a dispensou. Para mim, foi certo alívio, pois tinha medo da cara dela. Ela tentava sorrir, mas o sorriso dela era tão medonha quanto a cara dela normal. Tinha uns pés que pareciam pés de avestruz. E era feia, feia demais! Coitada, feia e assustadora. Espero que não seja feia, assustadora e desempregada.

Até a semana passada outra senhora trabalhava para a gente. A N.. Ela é baixa, não tanto quanto a R., que é praticamente do tamanho da Shizuka, minha Scottish terrier. E ela me lembrava muito o personagem Ariete, do He-man. Um cara baixinho que usava um elmo e dava cabeçadas para arrombar portas ou destruir inimigos. E apesar de ter passado poucos fins de semana, os meninos já tentavam balbuciar seu nome, saindo algo como “ah-ia-iá”, o que levou a uma crise de ciúmes da R. Nome este que nem passa perto do que os moleques balbuciam! Mas também outra sem muita iniciativa. E fez uma coisa que me desagradou muito. Num dia de domingo, resolvi levar os gêmeos e a Eduarda pro Botafogo Escada Shopping e ela foi junto para ajudar. A Duda ficou no parquinho que tem lá e fiquei batendo perna pelo shopping, quando resolvi tomar um frapuccino de caramelo e chocolate do Starbucks. Eu perguntei a ela se ela queria algo, tipo café (todo mundo gosta de café, né? Menos eu) ou pão de queijo. E ela negou dizendo que não estava com fome. Quando chegou o meu frapuccino, ofereci por educação, crente que ela iria recusar. E ela aceitou... Tomou um gole do meu frapuccino! Na hora, fiquei sem ação. Afinal, eu era o culpado de ela ter aceitado, pois eu tinha oferecido! Mas não era para ela ter aceitado! Eu que não tivesse oferecido, mas aí, me sentiria mal por ter sido mal educado. Nem contei isso para ninguém, mas foi uma situação esquisita. Talvez o esquisito nesta história seja eu. Mas era a primeira semana que ela ficava.

Este fim de semana quem está aqui em casa é uma outra senhora, negra, alta, feia, com um nome estranho (Raiane ou algo assim) e que quase não fala. Só que ontem, quando voltei da corrida, por volta do meio dia, ela estava esparramada no sofá de casa, dormindo de boca aberta e não acordou quando entrei. Foi acordar um tempo depois, quando comecei a fazer mais barulho e a Eduarda começou a gritar. Ou seja, começou mal. Mas essas coisas só acontecem comigo, o que faz com que a Raphaela ache que eu sou implicante. Num momento desses, eu lembro que teve uma babá que fedia. Tinha o cheio do corpo muito forte, mesmo logo após tomar banho. Era impressionante. Graças a Deus, a Raphaela também não gostou dela (por outros motivos) e a dispensou.

Resumindo, passaram babás baixas, muito baixas (que continua), altas, assustadoras, com peitos que mais pareciam entrepostos da Parmalat, pessoas com nariz de tomada, gordas, com cabelos duros ou alisados, interessadas ou não, com iniciativa ou não, responsáveis ou não, e todas feias...

*Wookie: Aquele gorilão do Star Wars, o Chewbacca. O próprio Chewbacca era um wookie de 400 anos de idade.

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